quarta-feira, 3 de junho de 2009

DOMINGO É DIA

Por André Caixeta Colen

Pois bem!!! Chegou o domingo e com ele aquela sensação que a semana está prestes a começar. Você já acorda meio atravessado pensando: “Putz!!! Amanhã tem relógio de ponto!!!”. Você acorda ainda com aquele gosto de guarda-chuva na boca e uma ressaca pior do que Cabo Frio na invernada. Ainda com o cabelo todo bagunçado você se senta à mesa do café, toma um copo de leite com Nescau, termina de ver a corrida de Fórmula I, vê o Barrichello chegar, NOVAMENTE, atrás do alemão, fica puto de ódio lembrando-se de como era bom ver o Ayrton Senna pilotar, desliga a tevê e volta para o seu quarto.

Uma vez em seu quarto, você se deixa cair na cama e fica olhando para o teto como se estivesse esperando a morte da bezerra, ou um enorme meteorito cair sobre a terra, pois assim não precisaria trabalhar no dia seguinte, mas após alguns minutos em devaneios sobre meteoritos, mulheres peladas e afins, você decide reagir: levanta-se; coloca um short; uma camiseta; tênis; boné; óculos escuro; entra no Astrogildo (carinhoso nome dado a seu carro) e vai correr na Lagoa da Pampulha.

Caro leitor, você é um desportista de final de semana, em outras palavras, você é um mané que acha muito normal correr debaixo do sol abrazador das onze e meia da manhã. Então você estaciona o possante próximo da Igrejinha da Pampulha e já sai do veículo a trotes galopantes, mais parecendo uma gazela do que um corredor. Nesta brincadeira você já cometeu quatro erros: PRIMEIRO - o horário está errado; SEGUNDO - você não se alongou; TERCEIRO - homem não corre como gazela; QUARTO, E MAIS IMPORTANTE - você nasceu.

Então após uma hora de corrida você volta para o Astrogildo, coberto de suor, afinal já são meio dia e meia, não é mesmo jumento!? Então você sente que sua cabeça parece pegar fogo, mas se sente revigorado. Senta-se no possante e vai para casa. Chega à sua humilde residência toma aquele banho e pensa: “Tô zero!!!”

Ledo engano!!! Você — caro leitor — está prestes a começar a vivenciar o maior pesadelo de sua vida. Então, todo serelepe, você vai para o almoço na casa da avó. Afinal, domingão é dia de almoço na casa da avó!!! É aquele dia em que a cantina italiana se amontoa num canto da casa e todos, ao mesmo tempo, falam sobre diversos assuntos, todos desconexos e você deve entender tudo o que se passa. Vale lembrar que só você, que já nasceu nesta zorra, consegue fazer isso. Contudo, sua namorada (se você tiver ou conseguir que uma sobreviva a isso) não consegue!!! E mais, ao tentar fazê-lo ela (sua namorada) terá crises de vertigem e possivelmente desenvolverá algum tipo de transtorno do pânico.

Você chega e a balburdia já está formada. Você tem primo falando das conquistas da noite de sábado, primos falando do futebol que acabaram de jogar, primos falando do desgastante trabalho na empresa, mas principalmente todos falam mal dos que não compareceram, pois toda ausência é atrevida em uma cantina italiana.

Você já se sente em casa e logo entra na conversa falando da cervejada que rolou na noite anterior, naquele boteco descolado da zona sul, mas que na verdade é um tremendo copo sujo da zona leste.

Naquela zona você fala do seu assunto, ouvindo a conversa de um e dando “pitaco” na conversa de um terceiro. Enfim!!! É algo que beira a loucura, mas é maravilhoso (ao menos par você é!!!!).

Você nem percebe, mas já está com um copo de cerveja (Brahma!!! Por favor!!!) na mão e já começa a pensar que o domingo não é tão ruim como você estava pensando!!! Logo um de seus Tios (também brahmeiro) já chega com uma tábua com queijo tipo provolone em cubos, salaminho italiano fatiado, ciabata, azeite de oliva com orégano e limão siciliano cortado ao meio. “Meu amigo!!! O boteco da vó está oficialmente aberto!!!”

Num espaço de aproximadamente oito metros quadrados, você, sua irmã, e mais onze primos, suas respectivas namoradas (quando estas existem), seus tios e tias, vó, vô, cachorro, papagaio, periquito se espremem e freneticamente cada um falando mais alto do que o outro a fim de ser escutado, ou não. Neste ponto você começa a experimentar uma ligeira tontura e pensa que provavelmente já é a cerveja que começa a querer te ingressar na fase macaco do chaparral.

Lá pelas três da tarde o almoço é servido. Neste espaço de tempo você já consumiu umas sete latinhas de brahma, alguns petiscos e nenhuma água (atenção para a água, pois ela será uma grande lição para o futuro).

Forma-se a fila do rango e a casa da sua vó mais parece a fila do bandejão popular. Concomitantemente “brigas” se desenrolam para a marcação de cadeiras à mesa, ou seja, o inferno continua. Sua cabeça gira mais do normalmente giraria sob o efeito de sete latinhas, mas você pensa que logo isso passa, pois deve ser fome! Afinal você só tomou um copo de leite pela manhã, correu e não comeu nada que sustentasse.

Então quando chega sua vez de se servir lá está um maravilho Gnocchi (para quem não sabe esta é a forma italiana de se escrever nhoque). Caro leitor, para você, um fidedigno amante da cucina italiana, nada melhor que Gnocchi, como se não bastasse ainda há uma salada com tomates secos e mozzarella de búfala e de quebra um maravilhoso filé ao molho madeira (detalhe que o molho foi feito, não é destes que se compra pronto).

Você está varado de fome, com a cabeça girando mais do que um pião e o que faz!? Hein!? Exatamente, você desorienta e come como se o mundo estivesse acabando, como se aquele meteorito que você pensava pela manhã estivesse efetivamente se dirigindo à Terra.

Após encher o pandu (leia-se “estromago” ou estômago, como queiram!!!) o frenetismo continua na cantina. Contudo, você se sente estranhamente desconfortável, como se algo estivesse fora da ordem natural das coisas. De repente, as pessoas parecem que estão falando em uma rotação mais baixa e tudo se move em câmera lenta, você sente que algo está prestes a explodir.

Quando menos espera você já está parecendo aquela menina do filme exorcista, só lhe falta girar a cabeça. Você parece estar tomado por algum espírito maligno. Sua voz esta rouca, embargada e tudo que você comeu jaz no fundo do sanitário. Você mais parece um leão rugindo na savana da África. Você literalmente abraça o sanitário e o faz de refém. O único som que se escuta, vindo do banheiro, é você, estranhamente, chamando um colega de nome Rui:

—Ruuuuuuuuuuuuuiiiiiiii!!! Ruuuuuuuuuuuuuuiiiiiiii!!! Ruuuuuuuuuuuuuuiiiiiiii!!!

Quando finalmente acaba, trôpego, você tenta se levantar e sente aquela fisgada na parte posterior da coxa. Sim!!! É uma câimbra!!! Daquelas lancinantes!!! Você cai em silêncio porque não consegue nem gritar de tanta dor, sua cabeça gira, sua perna repuxa, seu estômago revira-se, sua testa arde, você começa a suar frio. Meu caro amigo, você apresentar sinais claros de insolação. Você, representante mor da manezisse, não se hidrata, não se alonga para realizar exercícios, saí para correr sob um sol causticante e aí, para arrematar seu dia, toma umas cervejas e come como se o mundo estivesse acabando.

Em meio a dores na coxa, vômitos e, agora, uma diarréia e febres sem fim você resolve pedir a ajuda de alguém. E aí, o drama-cômico italiano novamente se revela. De uma hora para outra todo mundo quer levá-lo ao hospital e começam a discutir quem vai realizar a façanha, no meio do nervosismo os primos brigam entre si e de repente ninguém mais quer levá-lo, enquanto isso você esta lá: passando mal; com câimbras; estômago doendo; literalmente “mijando pelos fundos”; com febre; e totalmente tonto.

Por fim, um dos parentes menos ensandecidos, pega e o leva para o Hospital. Lá você fica cerca de três horas esperando o atendimento (não perca a conta, já devem ser aproximadamente quase oito horas da noite) e antes que o médico possa dizer alguma coisa, você no auge do seu nervosismo e descontrole já diz:

— Se o senhor me disser que isso é virose eu vou quebrar a tua cara!!!!

O médico assustado só digna-se a dizer apenas que é uma insolação e que receitará, além de das três bolsas de soro fisiológico, um buscopan na veia e uma dieta líquida pelos próximos três dias (leia-se água e não cerveja).

Meu caro, você sairá do hospital por volta de uma hora da manhã e nos próximos três dias você não será ninguém. Este foi mais um belo e cotidiano domingão em família!!!

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