segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

PERDOAR

Por André Caixeta Colen

Tentarei não ser ácido hoje, afinal, estamos nos aproximando de uma época especial (ao menos dita como especial), então resolvi falar de um tema complexo, o perdão. Falar sobre perdão, particularmente para mim, é tarefa hercúlea já que costumo dizer que perdoar é divino e definitivamente não sou Deus, ainda (quem sabe um dia!? Vai saber!).

Costumo também dizer que gosto de escrever sobre coisas que sei. Desta forma evito soar falso, ou como mera verborragia demagógica daquele que fala sem conhecimento de causa. Como diria meu antigo professor de processo civil da faculdade (Ronaldo Bretas), falar do que se desconhece é se auto intitular de beócio. Para quem não sabe o que significa beócio é o equivalente a idiota, imbecil, alguém desprovido de capacidade cognitiva mínima.

Em que pese a sapiência do meu antigo professor, digo e repito, sou beócio. E daí!? Vou então ousar falar algo que desconheço. Digo isso do mais profundo recôndito de minh’alma: "EU NÃO SEI NADA SOBRE PERDOAR!"

Segundo o que preceitua o dicionário perdão significa renunciar a punir, absolver. A palavra perdoar tem origens gregas que remontam a idéia de cancelar ou remir. Significa a liberação ou cancelamento de uma obrigação, sendo utilizada muito no sentido de se liberar alguém de uma dívida financeira, psicológica ou sentimental.

Já num contexto religioso, o qual, de antemão, digo que não vou me ater por DEFINITIVAMENTE não apreciar qualquer contexto religioso em meus textos, o perdão é um ato no qual o ofendido livra o ofensor do pecado, liberta-o da culpa pelo pecado. Este é o sentido pelo qual Deus “esquece” quando perdoa (“Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades; e de seus pecados e de suas prevaricações não Me lembrarei mais.”, Hebreus 8:12). Desculpem-me se fiz a remissão bíblica equivocada, mas eu acho que é esta daí mesmo. Como sou eu o escritor desta crônica quem não gostou que busque a sua (remissão).

Pesquisando sobre o perdão na internet descobri um estudo realizado na faculdade de Stanford por um professor de nome Luskin. Segundo estudos desenvolvidos naquela universidade, contando com anos de observação, chegou-se a conclusão que perdoar é uma das ferramentas básicas para a satisfação pessoal principalmente de quem perdoa. E mais, por vezes é elemento essencial para que o perdoado consiga retomar projetos de vida ou satisfação pessoal com as coisas do dia-a-dia.

Talvez por isso, que perdoar seja tão difícil, pois, por vezes, não somos capazes de lidar com nossas alegrias e satisfações, talvez a dor seja algo muito mais palpável e realizável aos nossos sentimentos e ao nosso próprio corpo.

Estou aqui apenas fazendo conjecturas, não sou e nem quero ser detentor da verdade. Aliás, penso que, GUARDADA AS DEVIDAS PROPORÇÕES, a verdade é uma mentira que aconteceu.

Fomos acostumados a pensar que somente através do sofrimento aprendemos. É certo que o sofrimento, por nos deixar marcas, nos lembra, a todo instante, do ensinamento de vida. Enquanto a felicidade e a alegria são confortos sensitivos. E sejamos francos, conforto é algo que nos acostumamos facilmente e depois de acostumados nem damos a devida importância.

A dor, por outro lado, é o incomodo, o estorvo diário que nos lembra a todo instante de nossas fraquezas e fragilidades. Talvez, por isso, perdoar seja tão difícil. Preferimos conviver com a dor que com o conforto da satisfação, da alegria, da felicidade, pois, se retirado este conforto, talvez por medo, não consigamos mais reavê-lo. E convenhamos, quando o conforto nos é retirado a dor pode ser quase insuportável (ATENÇÃO!!! EU DISSE “QUASE”!).

Como se pode perceber, estou fazendo uma abordagem de filosofia de boteco, por favor, não me levem tão a sério. Nem eu me levo tão a sério. Repito, são apenas conjecturas de uma pessoa beócia.

Jamais ousaria colocar qualquer ponderação como se fosse algo pronto e acabado, até porque, como disse no início, eu não entendo nada sobre perdão.

Pelo que tudo indica, em razão das minhas digressões, é que o perdão alivia e traz paz a nós mesmos e talvez por isso seja tão importante perdoar. Ouso mais, perdoar a si mesmo por todas as coisas erradas, ruins e, por vezes, moralmente questionáveis que já tenha feito, é fundamental, pois o perdão lhe trará paz e alegria. Talvez, somente talvez, digam que perdoar é divino porque a paz que é proporcionada pelo perdão nos faça superiormente bem, daí esta divindade (aqui, no sentido de plenitude de espírito).

Como homem, digo que tenho aprendido, a cada dia, um pouco mais sobre a vida, um pouco mais sobre o Homem e um pouco mais sobre o perdão. Tenho aprendido a perdoar os outros, mas a tarefa mais difícil do perdão (perdoar a si mesmo) ainda é um estorvo para mim. Por isso digo que não sei nada sobre o perdão. Não ofereço saídas nem receitas bonitinhas e babaquinhas para ser feliz. Trago algumas angústias naturais de todo indivíduo que pretende viver esta vida com plenitude e com satisfação e as divido com vocês.

Contudo, se o perdão realmente oferece este estado de felicidade superiormente bom, eu digo que perdoem a vocês mesmos, aos outros, e me ajudem aí: “Perdoem-me pela besteirada que escrevi aqui!

Outra, não estou dizendo isso tudo por estarmos no natal, e que o perdão deve permear todas as atitudes que nos rodeia, ou qualquer “papinho de cartão de natal” parecido. Faço este breve desabafo, pois o perdão é algo que me atormenta e uma forma que achei de lidar com as coisas que me atormentam é colocá-las para fora, dividir com pessoas que eu gosto e até com pessoas que não conheço. É pela troca de experiências de vida, pelo maravilhoso dom de escutar e compreender o próximo e suas diferenças, que crescemos, nos aperfeiçoamos como pessoas e, quem sabe, consigamos nos perdoar (eita tarefa complicada, viu!?) e perdoar o próximo.

Numa conclusão simplista e beócia eu diria que perdoar é ser feliz; ser feliz é nosso direito e obrigação nesta vida, logo, perdoar, além de divino, é um direito e uma obrigação. Coisa doida, né mesmo!?

Viva as coisas do cotidiano!

3 comentários:

  1. Que belo presente deu a seus leitores e, sobretudo, a si! Parabens!!

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  2. Doido seria agarrar-se a algo, o objeto do rancor, o motivo do perdão. E divino é continuar a caminhar, pois perdoar é tb renunciar um plano perfeito e construir outro no lugar...
    bjs muitos

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